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domingo, 6 de março de 2016

A Bruxa - Crítica


O folclore americano é apinhado de contos envolvendo bruxaria, com o tempo esses contos se tornaram cantigas para assustar as crianças mais levadas, talvez o diretor Robert Eggers tenha sido uma dessas crianças, pois a origem de A Bruxa remete aos primeiros pesadelos do diretor estreante. E que bela estreia.

Esse medo de Robert se tornou obsessão e o desejo dele era levar para a tela uma história pautada na realidade, algo sujo e plausível. Uma história que explicasse o que levou a histeria coletiva que viria a acontecer anos mais tarde em Massachusetts, episódio esse que seria conhecido até hoje como o julgamento das bruxas de Salem.

Robert Eggers mergulhou nos estudos durante quatro anos. Para trazer à realidade, a ignorância e o fanatismo supersticioso vivido naquela época sombria dos Estados Unidos colonial do século XVII.

O que muitas pessoas não sabem é que o filme todo é baseado em relatos reais e em documentos históricos que evidenciam a prática de rituais de magia nesse período conturbado da história americana. Como disse o próprio Eggers, seu desejo era que esse filme fosse o pesadelo de um fanático religioso do século XVII e que pudesse ser “baixado” para o cérebro da plateia.

Durante a assistida conseguimos perceber o motivo do diretor/roteirista estreante estar sendo tão falado e elogiado pelos críticos. O cuidado que Eggers teve ao recriar a ambientação e todo figurino do elenco é assombroso. A obsessão com esse detalhamento é tanta, que toda a fragilidade das estruturas que vemos na fazenda, da pobre família protagonista do filme, é real. As casas foram construídas com ferramentas da época. O mesmo tratamento é dado ao impressionante figurino do elenco, algo que ajudou mais ainda na imersão do pesadelo histérico.

Outro elemento que se destaca é a cinzenta fotografia, que trabalha a favor do roteiro mantendo o clima cada vez mais claustrofóbico a medida que a família vai sendo engolida pelas sombras no desenrolar da projeção. Tudo isso embalado pela Requiem for Soprano do monolito negro de Stanley Kubrick (de arrepiar).

Aqui a canção macabra:

 

A ótima atuação do elenco enaltece ainda mais a obra, uma atenção especial para o elenco mirim que dá um baile em muito ator marmanjo de Hollywood. A protagonista, Thomasin (Anya Taylor-Joy) está impecável, a atriz possui uma beleza singular e uma sensualidade oculta que causa uma inquietação tremenda até os momentos finais do filme… e que momentos finais (O_O).

A Bruxa, não é um terror comum. Além de se desenrolar em um ritmo lento e asfixiante, ele é o terror do medo, do desconhecido e da estranheza. É evidente até mesmo elementos lovecraftanos na obra: a floresta tratada como uma ameaça real e a Inocência de pensar que há salvação onde todos já nasceram condenados ao sofrimento.

O terror aqui é psicológico, é o terror de mal-estar, de que há algo errado naquele ambiente e que esse “algo de errado” acabou infectando você de alguma forma, pois mesmo após os créditos finais algumas questões vão te acompanhar. O mesmo terror explorado em o Bebê de Rosemary, Babadook, Violência gratuita, Corrente do Mal e no inglês Sem Saída onde Fassbender faz uma ponta. Por não ser um terror pop é onde os desavisados deslizam e acabam por odiar o filme, ou até mesmo tentar procurar onde está o terror naquilo tudo. Como disse, A Bruxa não é um terror moderno tradicional, sangrento ou sobrenatural como annabelle ou Invocação do mal por exemplo, maior prova disso é que em momento algum ele apela para sustos. Ele prefere ser mais sutil trocando o assustador pelo profano e usando a violência quando é necessário chocar.

Robert Eggers entrega ao mundo um terror moderno de arte, ou seja, não é um filme para o público casual, esse filme é uma aula de história crua e realista, o estopim da histeria coletiva que assolou a mente dos fanáticos religiosos dos Estados Unidos colonial. A obra é tão profana que vem sendo exibida gratuitamente por seitas satânicas em diversas partes dos Estados Unidos. “uma impressionante apresentação da visão Satânica” (porta voz de um Templo Satânico dos EUA). Para os amantes de cinema, os últimos minutos da projeção revelam as cenas mais perturbadoras e desconcertantes do cinema de terror dos últimos tempos (nesse momento eu já estava dentro da poltrona).

Nota 8/10

Trailer:




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